recado a casmurro, meio dia de julho


Bento,

vi minha imagem passada e isso me causou espanto.
a sua ausência me ensinou muito sobre as passagens e presenças. sobre o fixo e o passageiro. não me dói tanto agora que afixou-se aí do outro lado do oceano, a distância física talvez tenha me mostrado muito. ou não mostrado nada. ao menos paro de me questionar sobre sua figura aqui perto.
eu me pergunto como é aí, e como é a decisão de se deslocar.
mudaste. e lembro bem como me chegavam os seus pensamentos de incômodo. talvez tenha experimentado uma expansão.
me questionei sobre as pessoas que haviam passado e se diluído em mim.
és uma delas, sabes bem.
as minhas dores não te chegaram ainda. o envelope amarelo e cheio de recortes se perdeu entre as correspondências alheias, talvez não tenha lhe chegado. mas dentro dele reside uma colagem, um rabisco, algumas letras de música e páginas de letras grandes e sem pauta dizendo o tumulto. escondido no envelope eu envio uma foto para que guarde a memória para si. guarde-a por mim, assim como fiz por ti em outro momento.
onde se encontra a história, bento?

Simone