destino

o movimento do trem avante
o retorno
a paragem, 
todos os dias se perpetuam na repetição

o caminho é o ilusório igual
mesmas ruas, mesmos edifícios, mesma ponte, 
mesmos pontos turísticos, mesmos parques
mesmos bancos que de dentro do trem se deseja sentar e ler sob a sombra de uma árvore, 
mesma grade que cerceia a linha, mesma estação
mesma exposição lá fora. 
e os olhos sem interesse que percebo aqui dentro, 
acreditam que o caminho é igual. 

o horário muda. a luz muda os edifícios as ruas e tudo que toca.
o mar que acompanha o trem em todo o trajeto não é o mesmo
o movimento do mar é a prova de que os olhos têm que ver o azul, espantar-se 
o azul do céu se ajunta com o mar, acompanhando e escoltando o movimento
titubeia voa e canta seguindo, ele vai. 
as pessoas fora do trem não são as mesmas, 
as situações fora do trem não são as mesmas, 
as pessoas dentro do trem não são as mesmas, 
mas os olhos insistem em não se espantar com gente, insistem em seguir com o costume 
estar acostumado é fazer parte
é saber não olhar para canto nenhum quando o trem está cheio de gente, 
quando alguém para a sua frente por vinte minutos e não te vê. 

o casal nos últimos lugares deste vagão não é o mesmo de outra viagem 
o rosto pálido de um homem a janela não é o mesmo de outro retorno
nada se parece, mesmo se declarando assim. 
ninguém existe além de si quando não existe espanto nos olhos, olhe
cada impressão no trajeto é expansão, 
cada percepção de rostos ou contornos é expandir-se 
cada espanto é uma ruptura.