dia qualquer, abril 1984

Carlos,

Que engraçadas - talvez belas - são as coisas. Sua flexibilidade é coisa das mais fugazes.
Quantas tantas vezes lhe escrevi estas coisas em sonho? Talvez outras mais em quase-sonho, esse espaço temporal em que se faz poesia antes de dormir.
Essa escrita decai, sofre e arranha como um eu aturdido que se esconde sob o discurso simbólico e amarrado, confuso, de falsas pretensões rodopios vislumbres e períodos longos.
Só tenta ser. Parede que existe uma obrigação de extraordinário na existência.
Ser é (além, mais)
É (tudo, mais)
O problema, Carlos, é essa fata de trato, falta de norte, certeza.
ou coisa.
Não teríamos coisas demais?
coisas de menos já falam muito.

Cortemos o excesso.
Na falta, repetimos (deliramos).
Esgotados, calamo-nos.

Resta-nos apenas as coisas. De existência sem quem as diga, vivas.
significam.

Elisa