quarta-feira, 5 setembro


ana,

me sinto vazia e isso nada quer dizer. (sei que estou cheia)

os fatos lá fora permanecem mudos, só o ato de criação ainda tem cansada voz. fazem, falam que fazem, nada dizem. onde estão todas as vozes, ana? mesmo os sussurros, onde estão? onde está a enxovalhada destoante e arcaica de andré?
tudo acontece lá fora em estruturas mesmas, fatos e factos, flores e rendições.
somam.

parece tudo acontecer. não sinto que acontecem de fato. ouço que avisa: "está acontecendo".
coisas demais acontecem lá fora. queria eu falar sobre tantas coisas. não falo.
atenta: aparecem agora, destoam agora, não sempre. até a falta de acontecimento é constante. mas foge dela o sempre. o avultamento.
falando em eu, me enche a saudade e a imprecisão.
as presenças são coisa engraçada, lampejos a serem pensadas
e tudo vai fugindo
               se esvaindo
                    me escapando
                          deixando saudade

inquietação.

elisa