(Manuel Álvarez Bravo, *Os agachados*, 1934)
"Perceber que não nos esgotamos nas posições que ocupamos é perceber que
existem coisas mais importantes do ...
faca / rimbaud revisitado
no caminho (aqui)
vi o retrato de duas mulheres no reflexo do vidro
a paisagem correndo rápida pela janela
e sobre ela as casas da outra margem
as mulheres conversando
uma outra olhando para um nada (ali)
enquanto (fora da janela) olhava nos olhos de sua filha
o retrato engana
uma sobreposição saturada de vozes de um trem cheio
malas no corredor
e idiomas inumeráveis que
nem sequer dialogavam
no caminho eu pude ver mais
em um trem mais veloz
num trem-bala
enquanto não escutava nada,
enquanto um uivo reverberava em uma canção
ou barulhos ritmados destoantes
sons que me cortavam rasgavam passavam
que em um trem vagaroso,
enquanto uma moça contava enérgica histórias que me pareciam dispensáveis em um idioma
que compreendi, mas ignorei.
enquanto a moça fazia entonações e vozes múltiplas e eu só pensava em como ela poderia
mudar aintensidade com tão pouco volume, e pensava no seu idioma
o ritmo muda muito, é baixo e enérgico, pode isso?
no caminho parei numa estação de trem atulhada de detalhes
uma estação que não cabia na funcionalidade que tem
não é lugar de passagem
mas não seria a passagem o momento de se observar?
(fujo)
me admiro com um casal que passa,
ele a puxa abruptamente para si
um abraço de necessidade, um beijo de naturalidade
parecem próprios um do outro
parecem lembrança
fora da estação uma senhora com shorts curtos e
roupas claras, cabelo mínimo
passa de bicicleta (rindo)
um casal de velhinhos passa de mãos dadas
e trocam um beijo furtivo
dentro de um bar pessoas de idades diversas comemoram
e dançam ao som de acordes de um blues convidativo
e o vento me levando através da praça cheia
para lugar nenhum, só carregando enquanto eu esperava o tempo passar
no caminho anotei os detalhes que precisava
para tentar reter a passagem
lembrei de ti. mas não te vi para reter-te na anotação
Marcadores:
escrito