recado a bento, carta-repetição, agosto



bento,

estou imóvel, enquanto vivo o desalinho de conviver com a falta, a imagem de pescadores sob o sol me assombra. eles estão de pé, firmes. existe um devir por trás do ato de pescar, um equilíbrio. eles se mantém imóveis e isto nada tem de desalinho, nada tem do desastre de negar tudo dormindo.
por mais que eu rearranje os objetos no meu espaço, todos parecem estar em desordem.
talvez seja a minha falta de postura, a minha impostura, talvez
tenho uma carta guardada numa caixa que tento esquecer, tento esquecer que a escrevi.
tenho outra carta guardada dentro de um livro que tento lembrar, lembrar de enviar. ter coragem.
eu tento aceitar a imobilidade como estado, como momento. eu faço café e tento esperar o tempo correr, talvez o peixe venha. talvez a pesca valha e pena. ou talvez eu deva esquecer a pescaria e tentar caminhar um pouco. talvez a imobilidade me deixe em desarranjo, existe natureza nas coisas? se existe, as pessoas são tão absolutas em sua natureza?
a mobilidade pode sim se confundir com o imóvel, é a constância. é o que me falta, talvez.
alguns versos me preenchem de dúvidas,
mas são alguns outros que me tiram da cama. tenho a impressão de que a curiosidade está voltando a mim, está voltando aos dias.

simone