ontem, início de setembro, 16:40




jafar,

regressei a um ponto em que nada penso quando me deito para dormir a noite. nada penso exceto algumas poucas epifanias e linhas imaginárias que traço para já me esquecer adiante. regressei a um ponto de apatia inofensiva. penso talvez que eu esteja num nada: a falta de sonhos. sempre tive um receio de não sonhar, de não querer. estive assim a um tempo atrás, talvez seja um estágio prévio de algo. uma volta antes do assunto principal, o entorno. algo sempre esta prestes a acontecer. agora, vivo no quase. quase sonho, quase. quase vivo, quase.
a miha intensidade vai se diluindo nessa apatia boa, nessa falta. talvez seja a gripe, nesse caso, estou tentando te dizer do meu corpo pesado com o passar dos dias. que pede para que eu me mova vagarosamente. mas, devo te dizer, eu começo a gostar muito desse novo ritmo. desse excesso de casa. eu não saio, só fico. casa enraíza na gente, casa pede conforto e tempo para se estar. casa pede ao viajante a súplica da companhia, a casa oferece o sofá e o livro que se deixou para trás. oferece os objetos da sua memória e aponta um caminho entre as caixas para que você se descobru um pouca mais ali: que lembre. a casa tem todos esses adornos dos nossos acontecimentos passados, nossos souvenirs. o viajante as vezes esquece de como é esse sofá, esquece do livro. ainda assim, o viajante sabe que seu corpo é moldado para aquele cantinho da casa em se costuma cochilar, aquele pedaço que se sabe ser mais fresco. o viajante olha pra chuva de forma diferente, porque a chuva é uma para cada lugar. a chuva muda conforme vai caminhando no espaço, tem gente que nunca nem a vê e, quando vê, chora.
a casa te diz que você pode cantarolar baixinho, e o viajante canta.
eu voltei, jafar, mesmo estando calada, distante.
é que eu preciso de espaço para dançar um movimento novo, que eu ainda não descobri qual é.

abraços,
simone

[p.s.: quero que leia este poema, ok?]