Vibração

A percepção se faz livre para apalpar um movimento de sombra oscilando por vento,
para que as mãos percorram a distância até a vibração da matéria, 
e vejam o que o som contou-lhes mais cedo. 

A percepção livre não se satisfaz com a sensação primária, 
busca. 
Por isso, saio a noite à procura. 
Lá fora, confrontar o silêncio que insiste em dizer que não há nada adiante. 

E, para que se prossiga, alguns sentidos se trocam por outros. 
A visão deixa que a audição lhe tome lugar. 
Os ouvidos, por sua vez, pedem à pele que sinta o som que lhe chega. 
A pele, que se faz em toda parte, arrepia-se. E pede
auxílio aos cheiros diversos para se mover no desequilíbrio.

Abrem-se os olhos, 
a boca quer que lhe entreguem o gosto do vento e da experiência da noite. 
Conte mais, diz ela, 
tem talvez uma textura áspera e azul de tempo fluido, que não se retém em categorias. 
Tempo que se apercebe através da cor.

As sensações dançam.
Tudo é som.

Fora disto, a ação é lançar o olhar ao céu. 
Ver a lua. 
Ou perceber a troca de cor às seis e quarenta e três horas numa terça feira que
não houve.