F,
penso em como isso me propicia a oportunidade de falar sinceramente comigo mesma, em como neste momento eu estou absorta em escritas que doem muito, em momentos imprecisos. escrevi uma carta no alô cotovia, para teresa. recebi uma resposta ontem, ou percebi a resposta ontem. ontem voltei de viagem, uma viagem a mais - experiencias poucas. na verdade, começo a pensar que estou nervosa. sabe quando algo grande vai acontecer? uma viagem, por exemplo. vem um nervosismo muito grande, uma ansiedade, que é palavra melhor. estou ansiosa. parece que algo vai acontecer, e talvez seja o simples viver das coisas ----- será que vivo?
um ano atrás eu sentia uma ansiedade ainda maior. era o momento em que eu rompi com tudo, o momento em que eu comecei a me desconstruir, me quebrar, dobrar. um ano atrás eu comecei uma profusão de coisas, de sentidos, cheiros, andares, que se atulharam um ano que me pareceu dois. esse ano não tenho a ansiedade do ano passado. não tem ninguém vindo me ver. ninguém que me preencha. estou fragmentada. saindo de meses em que pela primeira vez me senti só. a solidão continua. eu passei a rever tudo, rever a mim mesma. pensar em como lidar com a minha fome, que nao passa. mesmo que eu escreva. talvez eu esteja ansiosa com a continuidade disso tudo.
estou lendo finita, da llansol, mais uma vez. penso que seja este um exercício de eterno retorno do mútuo. penso que eu esteja me aproximando dela.
este ano talvez as coisas assumam novos contornos. vou definir o que estudarei. não sei. imagine a minha ansiedade. este ano espero produzir mais. espero contar e dizer coisas novas com imagem e som. espero viajar.
e principalmente, que o medo passe. essa sensação de vertigem acabe. e menos cansaço, por favor.
talvez seja esta carta uma forma de te lembrar que eu estava assim: confusa, como sempre estou. e que agora eu me desconstruí ao ponto de não saber te escrever, de não saber o que dizer, de assumir minha confusão, minha solidão. e repetir isso, incessantemente. mesmo que tenha medo de que isso se acople em mim, não cure.
a minha grande pergunta é: quem te preenche agora?
andei refletindo, em como eu encontrei pessoas que não só conviveram, mas que se fizeram parte do meu eu, e de toda essa confusão. não é só companhia, partilha, riso. é algo um pouco mais profundo. penso em brenda k, em como parece que ela sou eu, e que eu me construo a partir dela, e com ela. penso em marcos, também. como eles são eu. penso em como 3 anos atrás eu estava falando e compartilhando momentos com um amigo, e agora compartilho silêncio. então refleti, sobre os que se vão, os que deixam silêncio, e sobre aqueles que já são minha essência. eu tenho partes.
daqui a um ano tenho a impressão de que serão as mesmas partes, e algumas outras presenças. gente aparece sempre.
mas as minhas partes vão se acomodando, e nelas eu me faço.
talvez seja esse o contorno.
será que agora tenho mais certezas? fiz escolhas?
gostaria de te lembrar de outro incômodo: o tempo que faz com que as suas dores tenham data para cessar. elas não cessam, mas aparentemente, têm-se somente um período de choque, depois --- costume.
sinto que não falei muito, sinto que não falei o que queria dizer
mas continue, continue
certifique-se de que suas partes estão bem, que suas palavras ainda existem. elas são seu todo.
afagos
F