de algo e nada sobre a liberdade de ser , 01:09, noite


querido,

estou inquieta. o dia foi um desassossego que não previ na preguiça que são os meus dias. às vezes um acontecimento, uma palavra, nos fazem lembrar de um sonho ou um eu que se perdeu na passagem do tempo. lembrei agora a pouco de um eu que me parece longe, quase perdido. 
isso acontece em viagens, pois é quando nos perdemos porque os caminhos cessam e a abertura nos faz entender quem podemos nos tornar a partir do que estamos sendo no agora. por isso a imagem do viagem é tão subversiva. o viajante que abdica do seu caminho traçado, dessa rota em comum que se tem companhia e um norte, abdica e vai. o viajante tem uma bússola movida a desejo e, a partir dela move-se em desalinho, tal qual é tudo que se expande. não existem linhas retas na aventura. existe o desejo de continuar. a viagem modifica e transforma o mundo numa obra aberta a ser refeita na vivência e na descoberta de uma leitura além das páginas dos jornais, é literatura. é uma palavra-poesia que transforma o ser. viver, propriamente, não cabe na praticidade da informação. 
e, assim, o viajante se faz subversão. porque o aceno do viajante, do lado de fora do caminho, nos faz lembrar que nós também temos desejo. as placas apontam uma direção-destino
uma possibilidade apenas
as placas indicam e as pessoas no caminho confirmam, é impossível seguir fora da borda nem tente, é muito perigoso. mas a fronteira existe tão próxima que é fácil de tocá-la, sentir essa textura, o contorno que você fez seu. está corroído, tem poeira e alguns furos, o caminho é forte mas exibe as marcas do tempo. tempo que se percorre na direção das placas, do fluxo. 
e então o desejo está aqui e não há nada que se possa fazer, ele veio porque o viajante me acenou de fora, 
o desejo está aqui agora e tenta me lembrar que eu posso ser outra e continuar, que estou perdida na realidade. 
a possibilidade é necessidade, 
volte. 

um abraço inquieto, 
elisa