fragmento de dia chuvoso, 22:30, imóvel

Jafar, 

enquanto distância eu te escrevi uns afagos, uns fulgores. agora, dizem que estou perto. estou em casa. mas descobri que vivo no longe, longe constante. será que em algum momento estaremos perto um do outro, perto propriamente? será que em algum instante poderemos estar a um passo um do outro, frente a frente, e ter diante de nós uma distância tão ínfima que possa ser a nossa maior virtualidade? imagine essa distância, você vê o espaço tão bem, essa distância de meio passo, essa distância que pode ser quebrada com um simples suspiro longo, desembocar em abraço. estamos frente ao outro, estamos nos encarando, suspensos. estamos sentindo as vibrações que vêm nos nossos corpos, se ajuntando nessa espaço de lonjura do entre. as vibrações são o calor da possibilidade de ser palpável todo um afeto. porque não rompemos então? porque esperar, porque olhar todo esse espaço pouco entre os dois? porque não avançamos? nós queremos esse espaço para vislumbrar um silêncio nosso. é nosso entrelugar, ele vai se esvair e não mais ser, sabemos. mas, agora, nós podemos ver. plenamente. 
estamos frente a frente, estamos aqui, estamos. 
é essa a sensação do desejo do abraço. 

na minha saudade de agora, percebo essa necessidade latente, de abraço. percorro fotos de tempos atrás, tempo indefinido em palavra, mas que têm contornos precisos nas explosões de horizonte que me fazem. o meu corpo foi definhando de saudade, o meu corpo clamava necessidade. amar é necessidade, amar é urgente. faz a vista turva, faz o corpo não perceber qual é a real distância entre as vibrações dos corpos. creio que chegou o tempo de me soltar por completa. superar a necessidade de antes. amar é urgente e não precisa de sujeito, afinal. precisa de um querer. 

pois, queira amar, querido.