demora para que se perceba
que lançar o barco contra o mar
é necessário e, mais ainda,
inevitável
menos ainda demora
para que a epifania tome conta
sublime um desejo de continuar
ainda assim,
quando olhamos para o convés percebemos
que a tripulação está dispersa
ou não está lá
é necessário que se construa
a rota, que se amarre os nós
que se pense as presenças que vão compor
a navegação
isso deveria ter sido feito lá no início
quando o barco estava seguro e inerte
quando havia chão
mas só se aprende no durante da viagem
só se quebrar, se estiver no fora
demora ainda mais pra que se vislumbre
algo que pode ser nada
mais ainda que nada
pode ser tão ínfimo que seja constante e
cotidiano
uma cor no cabelo,
um tecido
um som agudo ou
pássaros alçando voo abruptamente e pousando na árvore ao lado
pássaros são os melhores gatilhos de epifania
(Manuel Álvarez Bravo, *Os agachados*, 1934)
"Perceber que não nos esgotamos nas posições que ocupamos é perceber que
existem coisas mais importantes do ...