a ardósia do chão assimila o clima quente e ameniza o espaço
o corredor estreito parece guiar os passos tortos até o quarto
o quarto se preenche:
antes, um anúncio e possibilidade de espaço amplo, menos aperto
antes, um lugar que cabia tudo, menos calor
antes, alinhavo de lar, menos solidão de quem chega
o quarto só tinha uma cama e um colchão no chão,
um armário que cabia tudo: roupa quarto livro sapato tralha papel caixas e mais, cabe sempre mais.
cabe até quem mora no quarto, se quiser escuro.
porque o quarto é claro, tem uma janela que cortina alguma consegue driblar
e da janela não se vê rua, a janela dá para uma parede, e dá pra se ver somente céu no espaço do entre.
as duas se esparramaram no chão do quarto pra aplacar o calor
o quarto era grande demais pra tudo, elas cabiam no armário
as duas perceberam que as paredes brancas precisavam de cor, ou de pedaços delas
o quarto precisava virar espelho,
juntaram nele livros que tiraram no armário, uma vitrola, um caixote de madeira, uma estante
um abajur todo colado de jornais, roupas coloridas, uma cortina roxa, uma coleção de vinil,
os discos dos amigos, canecas meio quebradas, garrafas de cerveja e vinho, suco de laranja e café, pão de queijo e pão com mortadela, às vezes cachorro-quente ou torta de frango, macarrão instantâneo e
um casal de cangaceiros em miniatura, um colchão a mais
e mais.
do quarto só se sabe que se entra e fica,
e que se acolhe 7 dias na semana,
a partir do meio-dia.