ontem estive exausta. veio sem
aviso prévio. chegou de forma abrupta. aguentei o quanto pude. caí na cama, no
escuro, retraída. e, vindo de lugar desconhecido, escutei um sussurro. meu. sussurrei
palavras descompassadas num escuro conhecido. sussurrei mesmo sem forças. sussurrava
sobre o sussurro. compreendi que o ritmo desse meu lamento pouco era sem razão, era necessidade. o sussurro, meu respirar,
traduzindo minha verdade. no vazio do quarto que me acolhe, que me transfigura
num eu, respirava uma verdade; a verdade dos outros pode ser a minha, a verdade de todos pode ser a minha, a verdade dos tantos pode ser a minha; e o
que eu respirava era meu, tão meu, tão só, tão secreto, insólito e insubstituível, tão meu que essencialmente
efêmero. eu sabia que tudo respirado no escuro do quarto passaria, não se firmaria em
escrita sólida. tudo passou. respirei ainda mais, mais, mais, mais. expurguei o
que tentava inutilmente dizer aos correspondentes. dizer a mim mesma. meu
desalento foi soprado ao escuro, ao quarto, ao nada que me escutava sair de mim
um pouco, e mesmo que fosse repreensível respirar daquela forma, eu respirei.
não parei.
------------- o sussurro ainda pulsa, inaudível.
ele é minha verdade que aparece no escuro, se apresentou a mim na exaustão e instaurou a companhia de um saber.
é um segredo descompassado.
compartilha da verdade de muitos outros, mas diz diferente.
------------- o sussurro ainda pulsa, inaudível.
ele é minha verdade que aparece no escuro, se apresentou a mim na exaustão e instaurou a companhia de um saber.
é um segredo descompassado.
compartilha da verdade de muitos outros, mas diz diferente.