carta-recordação de um momento passando

hermes,

até depois de reformular todas as sensações, você parece imponente em palavra. e a palavra importa demais. mesmo depois de me fazer outra sinto certo receio do seu olhar sobre as minhas palavras,
ainda assim,
olhe. dá saudade quando falta.

em algum momento percebi que neste silêncio que se fez por todo esse tempo, eu também tinha culpa. continuo tendo. mas você sempre parece inacessível, somente visível em alguns arroubos de saudade. é quase um pedido à minha desistência. afinal, eu já não sei o que te faz tumulto. talvez continue com as mesmas angústias, como vou saber? não sei. não sei. ainda assim, espero o próximo momento de saudade. saudade momentânea.

hoje uma gatinha preta entrou em casa. eu não vi quando, só vi que estava atrás de mim no quintal. coloquei leite numa tigela amarela que comprei essa semana. parece que imaginei que ela viria. mas ela é momentânea também, até que me façam dizer adeus. eu não quero. ainda assim, tenho uma sensação imensa de que ela não me pertence. mesmo que eu tenha dado um nome: diadorim. diadorim faz par com kafka, outro gato preto que conheci meses atrás em lisboa. meu único amigo. te falei dele? talvez não. não te falei quase nada. nem que ainda é tempo para um abraço que eu venho precisando há meses. parece até que a necessidade nunca dissipa.

me desculpe pelo aviso repentino, ele ainda vai pairar por um tempo até que você o perceba.
muitos abraços,
e lembranças,
abraços bem apertados (como o primeiro)

elisa