ele chega, prostra-se no meu campo de visão e pára. permanece no silêncio acompanhado de um amplo riso, que repito. nós rimos porque sabemos da necessidade de palavras pra contar nosso peso. ele está cheio. na verdade, fragmentou-se a algum tempo, sem dizer-me. perdeu-se em outro caminho, passou a ser o homem que apareceu em outro conto. eis nosso encontro.
me conta os novos planos e seu norte. é um norte longe, que o envia para um silêncio além dos meus domínios, da minha observação constante. sei que não o perdi. almas desesperadas se encontram, independente de tempo; nós nos temos.
fiz café, forte forte como ele gosta. o sorriso vai se alargando, o meu também. agora bolo de chocolate, ele irradia animação.
quando combinamos nos encontrar, estávamos tão longe, tão modificados. mesmo assim, o estranhamento era elemento fora de cogitação, mesmo transformados nos conhecemos.
o encontro era um expurgo fora do texto, uma troca de impressões, devaneios.
dir-se-ia que estávamos a nos atualizar.
(Manuel Álvarez Bravo, *Os agachados*, 1934)
"Perceber que não nos esgotamos nas posições que ocupamos é perceber que
existem coisas mais importantes do ...